HIPSTERIA


Ilustração: Fabian Ciraolo
Mais uma vez o assunto hipsters me vêm à mente como algo que deve ser discutido a todo custo. A origem do termo é um tanto borrada mas creiamos que tenha vindo do mundo do jazz. Usualmente o termo se refere a um determinado grupo de pessoas. Tentando não generalizar nem ser preconceituosa eu creio que o hipster é uma pessoa que a princípio vê além do mainstream, lê revistas alternativas, procura discos que ninguém tem, vai a exposições pequenas em lugares não tão conhecidos, circula em ambientes diferentes das boates que conhecemos.

Enfim, é uma postura muito rica e muito interessante. Essa maneira de ver a arte pode ser a forma mais libertadora de consumi-la. Esse público é muito almejado por quem se interessa em fazer um trabalho artístico diferente e mais profundo sem se interessar tanto nos padrões da cultura de massa que funcionam pro público mas são inexoravelmente chatos de fazer.


Fotos: The Sartorialist
Bater nos hipsters virou assunto em muitas revistas e jornais mas o que me incomoda na verdade é a postura que tem se disseminado no meio. Parece que alguns se vitimizam e tentam olhar para o mainstream como um inimigo, alguns pegam grandes nomes e os colocam como vilões por não abraçarem o underground. Essa é uma postura chata que assolou muitos movimentos periféricos como o punk foi um dia. Cada um tem seus compromissos, suas preferências e: não, um artista não tem a menor obrigação nem a possibilidade de alavancar um outro artista. Essa profissão exige mérito. Tem muita gente rica que injeta dinheiro em assessor de imprensa mas não segura a barra. Não, o mainstream não é um inimigo, ele pode ser alterado pelo crescimento da periferia cultural, aquilo que não é conhecido hoje pode ser visto amanhã. E um artista deve ser ouvido, lido e visto porque ninguém faz arte “só para as pessoas legais”. Quem faz arte doa um pedaço de si para todos. Essa é a única parte realmente democrática da vida, a exposição não tem limites nem discernimento na obra artística.

Por isso o hipster não deve se opor porque ele é a princípio muito rico e abraça a arte pela verdade que ela tem. A ideia de se viver num mundo alternativo é provar e se deliciar com o que ainda não está acessível a todos, o hipster e seu crescimento na imprensa são muito importantes para quem faz arte hoje. São grandes incentivadores da arte, eu diria. Mas isso quando a postura não se demonstra adolescente.

O pessoal garimpa brechós e encontra roupas lindas que foram da avó de alguém em um tempo que não vivemos. A gente revive o passado e o reinventa de forma criativa. Tem coisa melhor? A arte reflete isso e agora ouvimos sons novos, bacanas, através de um circuito que está tomando forma e tendo mais visibilidade. Nada me interessa mais do que essa riqueza. Vamos abraçar o alternativo e entender que ele e o mainstream transam pelas nossas costas.



Alice Caymmi é cantora e compositora.