Eu tenho mania de simetria. Estalo os dedos de uma mão, estalo da outra. Traço uma linha sobre a pálpebra com lápis preto, capricho na outra na mesma medida. Os pedaços de legumes, cubos ou tiras, da mesma largura e comprimento. Uma unha mais comprida como usam os violonistas? Arrepio de nervoso só de olhar.
Um dia descobri que uma das minhas sobrancelhas era mais alta que a outra. Pirei um pouco. Quer dizer que eu sou assim? E a curva da cintura, muito mais acentuada de um dos lados? O peito maior que o outro? O pé esquerdo apertando em sapatos confortáveis no direito? Sofri.
Quando fiz minha tatuagem, o tatuador, com calma e sem susto, disse que tinha borrado um pouquinho. Eu achava que ele devia deixar como estava? Ou engrossar um bocadinho de nada a linha de um dos lados? Quase morri. Me vi debatendo a eternidade daquele segundo em que a mão escorregou, ele calmo e eu ali entregue, eu ali nervosa, discordando do conceito do conserto, desejando a perfeição antes do erro.
Seis anos depois e nem sei o que decidimos. Não sei. Sei que tem uma falha impressa à tinta na minha pele e achei que a vida mandou bem. Deu um chega pra lá nessa minha neurose do tudo igual. Aprendi a amar esse erro, e acho que aprendi assim a amar as diferenças. As minhas.