Com todos os conhecimentos que ela tem, apenas alguns compartilhou comigo.
-Por que você olha tanto esse celular?
Eu não respondia.
-Homem é uma distração que pode destruir sua carreira.
Pensando na história dela (da qual não sei quase nada) isso pode fazer sentido. Todas as histórias de amor, todo o sofrimento, ter morado na Venezuela e voltado encarando toda a dor. Cada um tem a sua história mas a da minha tia é bonita demais. Demais. Não sei contá-la mas ela conta em detalhes. É sempre bom ouvi-la cantar e contar histórias. Todas as confusões familiares, todos os seus casamentos. Ela foi a primeira pessoa da família a me colocar em teste. “Se ela sabe cantar, ela vai cantar”. Pimba: Canecão lotado e eu lá. Depois de cantar (eu tinha 12 anos naquela época), ela virou para mim ao fim da música e quis me dar um beijo na boca. “Um beijo na boca!” eu pensei. E ela deu, mesmo vendo meu pânico. Foi engraçado.
Tudo isso me colocou em contato com o meu ofício da maneira mais dura e maravilhosa do mundo. Ela tem amigos, ela ganha jóias, ela passou por dificuldades grandes, e também grandes regalos. Ela fala espanhol. Quem é você, tia? Eu me pergunto desde sempre. Em alguns momentos confidenciais trocamos palavras e descobrimos gostar das mesmas cores e dos mesmos cheiros. Tem um toque de destruição em tudo que ela faz, nada parece preocupá-la muito. Mas ao mesmo tempo ela é aquela figura imperial, dicotômica, alegre, triste e amável. Ela é dura comigo, sim, muitas vezes. Chorei em alguns momentos, mas isso tudo me fez persistir no que eu sou de verdade. Ela não suporta mentiras, não quer ouvir suas verdades.
Às vezes sinto que ela está sozinha demais, depois vejo que tem gente demais a sua volta.
Ela é isso. Uma grande e maravilhosamente ornada dicotomia do amor.
Alice Caymmi é cantora e compositora.
-Por que você olha tanto esse celular?
Eu não respondia.
-Homem é uma distração que pode destruir sua carreira.
Pensando na história dela (da qual não sei quase nada) isso pode fazer sentido. Todas as histórias de amor, todo o sofrimento, ter morado na Venezuela e voltado encarando toda a dor. Cada um tem a sua história mas a da minha tia é bonita demais. Demais. Não sei contá-la mas ela conta em detalhes. É sempre bom ouvi-la cantar e contar histórias. Todas as confusões familiares, todos os seus casamentos. Ela foi a primeira pessoa da família a me colocar em teste. “Se ela sabe cantar, ela vai cantar”. Pimba: Canecão lotado e eu lá. Depois de cantar (eu tinha 12 anos naquela época), ela virou para mim ao fim da música e quis me dar um beijo na boca. “Um beijo na boca!” eu pensei. E ela deu, mesmo vendo meu pânico. Foi engraçado.
Tudo isso me colocou em contato com o meu ofício da maneira mais dura e maravilhosa do mundo. Ela tem amigos, ela ganha jóias, ela passou por dificuldades grandes, e também grandes regalos. Ela fala espanhol. Quem é você, tia? Eu me pergunto desde sempre. Em alguns momentos confidenciais trocamos palavras e descobrimos gostar das mesmas cores e dos mesmos cheiros. Tem um toque de destruição em tudo que ela faz, nada parece preocupá-la muito. Mas ao mesmo tempo ela é aquela figura imperial, dicotômica, alegre, triste e amável. Ela é dura comigo, sim, muitas vezes. Chorei em alguns momentos, mas isso tudo me fez persistir no que eu sou de verdade. Ela não suporta mentiras, não quer ouvir suas verdades.
Às vezes sinto que ela está sozinha demais, depois vejo que tem gente demais a sua volta.
Ela é isso. Uma grande e maravilhosamente ornada dicotomia do amor.
Alice Caymmi é cantora e compositora.