ENSAIO SOBRE O FIM

Ando aprendendo. Aprendendo muitas coisas. Descobrindo um monte de preocupações e medos que pareciam escondidos pela falsa sensação de segurança que a familiaridade pode oferecer.

Ando aceitando. Aceitando muitas coisas. E a parte complicada é escolher o que aceitar. O que machuca, de verdade? O que dói, mas passa? O que não incomoda, mas assusta?

Percebo que não é a cidade que anda me engolindo, como eu tenho dito por aí, mas sim a dificuldade em aceitar que nada é seguro, que tudo pode acabar, que o fim está, sempre, próximo. Porque a gente gosta das sensações de eternidade. O amor que é pra sempre. A meia-calça que nunca desfia, o apartamento comprado na planta, feito para durar. Mas o amor uma hora acaba, a meia-calça não resiste a patinha de gatos e o apartamento pode desabar na sua cabeça.

Ando aprendendo que só eu posso me enganar o suficiente para me sentir, de fato, segura. São as rotinas que a gente cria, a neurose da repetição. A rede dos arcos amarelos faz sucesso garantindo exatamente isso; a segurança de que o hamburger sempre vai ter o mesmo sabor, em qualquer lugar do mundo onde amarelo e vermelho forem combinados para aumentar a sua fome e desejo por carne de minhoca. Queremos os sabores conhecidos, os lugares identificáveis, as pessoas e as ruas de sempre. Talvez por isso seja tão difícil aceitar grandes mudanças. Elas costumam devastar tudo o que parece seguro.

Então ando aprendendo que só existe uma coisa que eu preciso, de fato, aceitar.

O fim.


Camila Gadelha é publicitária e baterista.