Conhecemos os personagens Summer Finn e Tom Hansen, interpretados, respectivamente, por Zooey Deschanel, atriz e vocalista da banda She & Him, e Joseph Gordon-Levitt, ator e fundador da mídia colaborativa e produtora Hitrecord. Ela quebra os paradigmas e ele não sabe o que fazer com a mulher pós-moderna.
Tom cultiva uma descrença da felicidade, influenciada pela triste música pop britânica e a má compreensão de um filme, representando a ação da mídia sobre a sociedade e como a percepção de algo pode formar o individuo. Summer, desde a separação dos pais passa a se preocupar apenas com o cabelo, como ele é bonito e a facilidade que pode ser cortado sem que sinta nada, uma metáfora da mulher que tenta viver o lado bonito da vida sem envolver-se afetivamente.
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Summer, passa a se preocupar apenas com o cabelo,
como ele é bonito e a facilidade que pode ser cortado,
uma metáfora da mulher que tenta viver o lado bonito
da vida sem envolver-se afetivamente.
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O filme deixa claro que quebrará o paradigma das comédias românticas boy meets girl e logo alerta que não contará uma história de amor. Além da representação pós-moderna da mulher, é possível perceber uma descrença do indivíduo contemporâneo, que quando fala de amor, prefere falar em (des)ilusões. Já que o ato de relacionar-se com o outro tornou-se um paradoxo: comunicação (por meio de tecnologias) e solidão (por meio de tecnologias).
Tanto os homens “tradicionais” quanto os “pós-modernos” inconscientemente se assustam com a mulher contemporânea. É o que ocorre com Tom, que é devorado pela independência de Summer. O personagem formado em arquitetura não atua na área, acredita em um amor convencional e logo deseja uma mulher para compartilhar o happy end. Summer é uma jovem que sai da cidade natal para morar sozinha, está em busca de emoção e sempre consegue o que deseja.
Summer arrisca-se, Tom não. Ele acredita que jamais será feliz, até encontrar “a pessoa certa”. Ela não responsabiliza o suposto parceiro pela sua felicidade.
Tom consegue derrubar a parede na qual Summer esconde-se, a parede da distância, do espaço, do casual... “Tom estava no mundo de Summer. Um lugar que poucos foram convidados a entrar. E lá estava ela querendo ele e mais ninguém”, mas será que era suficiente?
Os relacionamentos sem rótulos ganham espaço, levando-nos a refletir sobre qual é o verdadeiro propósito de um relacionamento. Será necessário construir um nome para o que simplesmente vivemos? Namoro? O que significa? Apenas um conjunto de regras que passamos a cumprir severamente, cobramos e somos cobrados. Uma grande rotina destrutiva. Summer quebra todas as regras da menina que se encanta com o seu observador e rende-se ao padrão de relacionamento estabelecido pela sociedade patriarcal, em que se espera uma mulher “desesperada” por um pedido de namoro. Ela, simplesmente, aprendeu a ser feliz sem um relacionamento. A mulher não precisa mais se apoiar em uma relação e submeter-se a tudo para permanecer nela.
E quando a mulher expõe sua falta de vontade em rotular um relacionamento o homem sente-se perdido, pois isso significa que a figura feminina rejeita a sua proteção, ela deixa de ser o “sexo frágil” para ser dona do seu destino, deixando o homem em desconforto.
Espera-se ver nas telas sempre o final feliz dos protagonistas, que superam as dificuldades para viverem o amor incondicional. O homem deve salvar a “mocinha”, diferente de Summer, que não precisa ser salva por ninguém, ela faz suas escolhas e não precisa de um homem para isso. Quando Tom agride um sujeito em defesa da “namorada” que desaprova a atitude, simboliza, justamente, a negação do conceito em que a princesa espera o príncipe resolver tudo, enquanto fica na torre aguardando o beijo final.
A história de amor pode não ter um final feliz para eles (juntos), mas ambos aprendem um com o outro. Podemos citar uma frase de Summer para Tom: “Acho que podemos concordar em discordar”, chamando a atenção para o fato de que somos diferentes sim, vamos respeitar e somar isso, ao invés de colocar as diferenças como obstáculos nas relações (nesse caso, de gêneros).
Aline Vaz é professora e escritora.