Limites são dádivas e invenções, traçando uma linha que risca e arrisca. O cocô simboliza a criatividade e é fabricado a partir da discriminação feita pelo nosso intestino. O corpo precisa selecionar, separar, descartar. Assim como esse texto que se reinventa, se elimina, se pontua. A piscina passa a existir a partir de uma borda, que delimita um espaço aquático. Nele vamos mergulhar. Esparramar a água por todos os lados. Vamos?
Uma amiga querida me dizia: “O limite é a borda ou o que transborda?”. Mas se não houvesse borda, haveria o transbordamento?, retruco. Percorro uma linha imaginária que compõem o traçado do meu corpo e minha estatura. O tato faz lembrar que existe pele. E existe o ar que atravessa os poros em eterna expansão e retenção, tornando permeável esse delineado. Portanto, esse limite que se impõe é permanentemente flexível e paradoxalmente necessário. O que seriamos de nós cagando pelas piscinas e esquinas? E o que seria de nós se não cagássemos vez ou outra fora do lugar? Vide os punks e suas tiragens de excremento como atitude.
Poderia me estender, mas por aqui vou ficando, embarreirando palavras para que permaneçam vivas. No batimento presente. Observo o que me cerca: a cama, o ar-condicionado, o ponto de ônibus, a ponte, cada objeto-participante do mundo e suas etiquetas nominais. Através desses nomes podemos abrir diálogo e abrir as paredes lado a lado, deixando aparente o vácuo. E essa será a última frase do texto, tudo bem?
Bella é cantora e compositora do duo Real Imaginário.