Desde os meus 10 anos de idade quando o Messenger e o mIRC começavam a ganhar popularidade, ouço dizer que a internet vai acabar com as relações sociais entre humanos. Pequena, e depois mais adolescente sentada no sofá ou na mesa, ouvia atenta e já com uma certa saudade, de como em alguns anos não saberíamos mais ler expressões faciais e nos tornaríamos inaptos socialmente. Pois quinze anos se passaram e vi passar por mim o Altavista, Yahoo, Google, Orkut, Facebook, Flickr, Instagram, Gtalk, Whatsapp e What not, hoje em dia está mais do que certo que pelo menos o olhar surpreso, a duckface, e a carinha triste são expressões que a moda das selfies não nos deixa esquecer.
Viramos emoticons humanos e estamos mais conectados do que nunca. O quanto disso interessa não sei – li um estudo recentemente que só conseguimos estabelecer conexões verdadeiras com 150 pessoas durante a vida. Por isso, para aqueles que se orgulham de ter 1.000 amigos no Facebook, serve de pouco. Com a velocidade desenvolvemos a comunicação com poucas letras e embora não passemos tanto tempo lendo expressões faciais, aprendemos a ler pontos finais, vírgulas, espaços e silêncios nas milhões de mensagens que trocamos. Sim, a vida vai se tornando cada vez mais a leitura (muitas vezes errônea) das nossas interpretações das palavras dos outros.
E se as amizades se tornam mais superficiais, e a leitura dos outros mais críptica, o que acontece com Amor neste século? Não me preocupo tanto comigo, já que a minha geração não é totalmente digital e ainda gosta do ocasional roça-roça, cafezinho e flaneios no parque, mas tenho 5 irmãos que já saíram da barriga com celulares na mão postando no Snapchat e aflige-me pensar como serão as relações do futuro. Acima de tudo, como serão os casamentos amorosos do futuro?
Mas a quebra de paradigmas começou conosco. Somos a primeira geração que metade ou mais da metade dos progenitores estão divorciados, o que nos deixa extremamente pessimistas ou românticos incuráveis no que toca a relacionamentos. Além do mais somos as vítimas-protagonistas da terceira revolução sexual (ou quarta, já não sei a quantas vamos). Vivemos a época da experimentação. Tudo se questiona e se permite, principalmente em relação a sexualidade. Que bom que tudo possa ser questionado e que hoje dispomos de mais alternativas para o prazer. Quem sabe no futuro não nos tornemos um grupo de seres iluminados estilo eunucos que só precisam conversar pela tela, como já refletiu Spike Jonze em seu filme Her, atestando que nem que seja com um Sistema Operacional a gente vai sempre precisar se relacionar.
Hoje são poucos os que realmente acreditam (inabalavelmente) em casamento até ao fim da vida – tem quem aceite a escapadinha fora da fronteira. Tem quem quer só morar junto e tem quem nem morar junto quer. Tem quem tem fobia de se relacionar ou quem quer se relacionar com todo mundo e tem até quem casa pela igreja de vestido branco e música do Lionel Richie. Com a expectativa de vida na média dos 80 anos, os amores podem ser vários e de variadíssimas formas; marido, filhos, cachorro, aquele pé de manjericão no fundo da varanda.
Fala-se pelas esquinas que caminhamos para relacionamentos mais verdadeiros, conosco e com o outro e que isso pode incluir aceitar (ou não) certos requisitos outrora obrigatórios. Acho que estamos entrando na época dos relacionamentos feitos à medida, já que muitos andam largando o molde. Minha mãe acha que, como qualquer moda, é possível que a do casamento vitalício volte um dia. Talvez até num estilo versão beta 2.0.
Mas obstante tudo isto, uma coisa está certa, independentemente do formato de relacionamentos, somos e seremos (pelo menos até um futuro próximo) uma espécie muito carente. Está certo e sabido – e descansem que tenho a confirmação dos mais novos – que a gente gosta mesmo é de se apaixonar, amar e comer pipoca junto (salgada em cima e doce em baixo, é claro).
Sahara Boreas estuda Cultura e Comunicação Alimentar.