Lucy tem 46 anos. Desde os 25 ela malha religiosamente. Ela estava cansada de malhar e então tinha resolvido parar. Só que uma semana depois ela ficou insegura e voltou. É que a Lucy e o "João" acham que o grande valor dela é o corpão dela. João também tem 40 e tal, é o peguete da Lucy. Eles só transam de luz apagada. É que o João implica com as "pelancas" da Lucy e com o fato dela não ter aquela lubrificação enxarcada inigualável de garota de 18 anos. Ao mesmo tempo ela não aceita o fato do João as vezes não querer transar porque alega que se o pau dele não tá duro é porque tem alguma coisa errada com o corpo dela. Senão é com ela então é com ele e o pau dele. Senão com a relação. João por sua vez, não admite jamais não ficar de pau duro.
Se você, mulher, heterosexual espera que o mundo seja menos machista, que os homens sejam menos babacas e que você não seja sempre vista como uma pedaço de carne a ser jantado, e se você homem, espera não se sente confortável com as armadilhas do machismo que também te faz mal, comecemos por não reforçar comportamentos que botem o pau duro como supra sumo do poder na relação homem x mulher. Você pode achar a história da Lucy meio machista e bizarra, mas acredite que você também tem ou já teve estes comportamentos.
Tinha começado a ficar com ela devia ter uma semana. Convidei pra dormir na minha casa porque ficou tarde e ela morava bem longe. Ela hesitou. É pra dormir mesmo - eu garanti - tô querendo te ajudar, não é tática barata dissimulada pra te comer - sendo franco, brinquei. Ela riu e aceitou. A gente se beijou, eu não tentei nada e dormi. Não tentei não só porque estava exausto, mas porque não tava afim mesmo e além do que garanti que era só pra dormir, fui literal em cumprir o que disse. De manhã, ela me olha nos olhos, faz um ar sério e grave de quem vai soltar uma bomba e lança: Franco, posso te falar uma coisa? Eu acho que voce é gay. Eu ri muito.
Gostaria de entender: porque existe a obrigação tácita de ter que transar com uma mulher caso ela queira? Funciona assim pras mulheres: "Nossa! Ele falou que tenho uma bunda gostosa e quer me comer, tá de pau duro me sarrando no metro, fico muito molhada, quero muito dar pra ele." Se eu não quiser dar é porque ou eu sou lésbica ou tenho algum problema de libido ou alguma disfunção sexual.
A mulher se interessa por vários outros aspectos no homem e daí porque é tão surreal que o interesse sexual de alguns homens não seja só pautado nessa supervalorização do corpo e do sexo? O que há de errado no fato da mulher querer dar e o cara não querer comer?
Em outra experiência: já tinha acontecido alguns amassos além de beijo, mas não tínhamos transado. Não tive a vontade e o entusiasmo de querer me articular pra que isso acontecesse rápido, na minha cabeça iria acontecer naturalmente, ela me interessava além de só sexo, o interesse sexual estava acumulando, quase tântrico, eu não estava na seca, nem ansioso pra que acontecesse. Ela sim. Depois me contou que o amigo gay dela garantiu que eu só podia ter micropenia e tava com medo de transar por isso. Ela não concordou porque já tinha me apalpado, mas até a gente transar achava que eu deveria ter algum complexo, ou defeito físico, problema, ou ser gay.
As minhas melhores transas, foram sempre com pessoas que eu já conhecia bem e tinha bastante intimidade pessoal e sexual. Não falo isso com moralismo, não sou um ortodoxo "reaça" e acho que cada encontro diferente tem tempos diferentes, mas acho bem bizarra essa nossa enorme ansiedade disfarçada em comportamento modernoso e liberal de ficar de pau duro e transar rápido.
Não por acaso que o genérico do viagra, um remédio que tecnicamente seria para os velhinhos que não têm mais ereção poderem fazer sexo, é o terceiro mais vendido do Brasil. Outro campeão de vendas é o rivotril. Esses dados não são meras coincidências e reforçam: Estamos ansiosos por paus duros. Estamos cada vez mais imediatistas, e parece muito mais fácil ser gado e fazer como todo mundo faz, transar rápido e partir pra próxima, ter intimidade sem conhecer de verdade a intimidade, resolver seus problemas de ansiedade com pílulas do que ficar fazendo 3 anos de terapia ou qualquer outra forma de auto-conhecimento. Parece mais fácil, a conta vem depois.
Tenho vários conhecidos que criaram uma dependência psicológica de remédio pra ficar de pau duro: sem pelo menos uma meiota de um remédio azulzinho desses, eles ficam inseguros e brocham. São vários, não um ou dois. Alguns também dizem que na primeira transa sempre tomam um viagra pra não correr risco de não rolar pau duro ou de não "fazer bonito".
Mesmo na vida de casado existe uma super-valorização do pau duro e do ato de transar. Já ouvi de alguns amigos: Porra, eu trabalhei muito essa semana, só transei 2 vezes, amanhã tenho que transar sem falta. E de mais de uma conhecida mulher: Não transamos hoje, temos que transar amanhã sem falta porque senão ele vai ficar com tesão acumulado e pode se interessar por alguém nesse fim de semana que vai passar sozinho.
Mas não é a toa que o pau duro seja tão valorizado e a gente se ache muito "anormal" quando porque, por alguma, ou várias razões, a gente transa com menos frequência na relação, pensa logo que tem algo errado. No passado falar abertamente de sexo era mais tabu, hoje temos mais e mais informação, o que deveria ser bom, se não acabasse desenvolvendo nossa ansiedade de ser um casal "normal" que transa na média nacional aceitável. A internet está lotada de listas e artigos te dizendo as vantagens de meter muito, chegando ao ponto de dizer que você tem que transar mais!
E esse é o paradoxo central com sexo e relações, de acordo com Barry McCarthy, um professor na American University, terapeuta sexual e de relacionamentos. Quando um casamento ou relação é saudável, o sexo geralmente tem um papel relativamente secundário. Mas quando existem problemas sexuais a relação degringola e o sexo rapidamente se torna uma preocupação devastadora acima de todo o resto. Se o pau não tá duro ou a buça não tá molhada, fudeu.
Vamos deixar essa fudeção de pau duro pra lá, vamos voltar a falar de amor. Lembra do João e da Lucy lá do início do texto? Então, há um tempo atrás eles tavam transando e o João bebeu e depois tomou um viagra pra ficar de pau bem duro pra comer a Lucy. João teve um infarto e morreu.A Lucy, apesar do baque inicial, hoje, quase 9 meses depois, já tá bem feliz. Lucy conheceu o "Dildo". Dildo além de bem menos crítico que o João com as pelancas dela, deseja e respeita Lucy como ninguém. Sempre que Lucy quer, Dildo também quer. Dildo tá sempre duro. Dildo é um vibrador e essa história é real, só mudei detalhes pra impossibilitar existir possibilidade de identificar os dois.
A sociedade está na cama com todos nós. Se todo mundo faz algo igual ninguém precisa pensar. Se chega o viadinho (no sentido literal histórico de ser viado especialmente) do Franco, ou algum outro viadinho consciente das escolhas dele e não segue um determinado comportamento padrão, eles tem que ter algum problema, porque senão eu, mais um gado da sociedade, preciso pensar. Ninguém quer pensar. Dá muito trabalho. Quem o Franco ou qualquer homem pensa que é pra sair com uma mulher e não querer comer ela rápido? Tá errado! Só pode ser viado porque macho que é macho fica sempre de pau duro e come qualquer buraco quente que esteja querendo ser catucado. Desculpa ae, se você é uma mulher que quis me dar e não te comi, sabe o que é? É que não ganhei meu pau no bingo e eu sou bem mais que meu pau duro.
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