Aonde pode nos levar um calorão desses? Pra piscina, pra cachoeira, pra beira do rio? Mas a verdade é que o calor não nos leva a lugar algum. Somos nós que levamos o calor pra lá e pra cá. Estamos falando, obviamente, do rock n roll.
O rock é um tipo de calor.
Melhor: o rock é um modo do calor existir nessa vida.
Porque o rock sempre foi mais (ou menos) que estilo musical. O rock pode se manifestar no carnaval de Cachoeira Dourada, Goiás. O rock pode se manifestar numa sinfonia do Mahler. O rock pode se manifestar no silêncio de uma mulher.
UBERLÂNDIA 40 GRAUS
Calor acriano em Uberlândia, as mulheres trajando shorts curtíssimos, aquele lustre na pele de todo mundo – o calor nos faz recuperar a condição de índios brasileiros.
Mesmo efeito garante o rock. O rock é o culpado pela nudez das mulheres, é quem responde por toda sede pagã.
Rock e calor são dois deuses farreando juntos à beira da piscina de plástico na tarde endomingada de uma segunda-feira no interior do Brazil.
EFEITOS COLATERAIS
Os efeitos colaterais do rock-calor são os mais desejáveis. O rock-calor bambeia o pensamento, incita a sexualidade, perverte os virtuosos, converte todo pecado em virtude.
O rock-calor também é responsável pelo abandono do trabalho. Associa-se a todo tipo de prevaricação e irresponsabilidade. Dez a zero pro princípio do prazer.
Aonde levaremos o rock? O nosso rock pessoal. O nosso jeito personalíssimo de rebolar. De arrastar a cara no espelho, na agonia da saudade amorosa. De dançar sozinho diante do espelho.
OBRIGADO, ROCK-CALOR
Tudo que tive nessa vida, veio por conta do rock-calor. Tudo que perdi nessa vida, perdi em nome do rock-calor. Tudo que sei de mim, revelou-me o rock-calor. Tudo que não sei sobre mim, escondeu-me o rock calor.
Levanto nessa tarde um brinde ao rock-calor.
Danislau Também é escritor, compositor e cantor da banda Porcas Borboletas.