Wagner Moura é um dos atores mais talentosos e inteligentes em atividade no Brasil, sabe pesar e escolher com perspicácia os projetos em que se envolve, que é uma das mais importantes competências de um ator agudo. Além disso, é um artista no pleno sentido da palavra: não renuncia a se engajar e debater os temas do tempo e da sociedade onde vive, muito menos se isola numa torre de marfim.
Trata-se de atitude escassa, uma vez que a maior parte prefere não se “comprometer” assumindo posições sobre os assuntos candentes e em ebulição de nosso convício em nome da segurança dos bolsos e de um suposto estar de bem com todos. Como se não bastasse, suas posições são progressistas e críticas: apoia, contra toda a propaganda criminalizante de amplos espectros da doutrinação social, o Movimento dos Sem Terra em sua luta pela reforma agrária e costuma declarar seu voto em candidatos envolvidos em lutas emancipatórias e democráticas.
Foi assim na última eleição municipal quando apoiou a candidatura de Marcelo Freixo (PSOL) no Rio de Janeiro. Presente quando do lançamento oficial da candidatura de Freixo na Câmara Municipal do Rio e movido por sua percepção estética, disse:
“Eu estou aqui por vontade, porque acredito nesse projeto, porque vejo beleza na candidatura que Freixo representa. Não estou aqui para ganhar nenhuma licitação. Uma campanha sinaliza o que será construído enquanto governo e essa campanha não será feita na base de financiamentos ilegítimos”.
Por isso não foi sem espanto que me deparei com uma matéria do Estado de São Paulo, na última quinta-feira (14), onde Moura mostra-se desiludido e perdido. Soou até mais estranho neste atual e efervescente momento da convivência mameluca. Ele relatou para a reportagem que não sabe em quem votar para a presidência e, mais importante, declarou: “Tenho o maior amor por esse País, mas não está dando para viver aqui. Nunca pensei que fosse dizer isso”. E segue dizendo estar feliz com seu novo projeto, que o deixará distante do país, ou melhor, dos problemas deste. Fique claro que não das palmeiras e dos sabiás.
Também na semana passada, em outra entrevista, para Adriana Falcão, diz que sente um“movimento conservador muito violento vindo por aí, um negócio esquisito”. E é nesse cenário então que você Wagner Moura, dirijo-me diretamente a você apesar de não nos conhecermos e confiante de que este texto chegue aos seus olhos, larga que é melhor se afastar do país?
É perfeitamente compreensível que você não abandone o projeto da minissérie sobre Pablo Escobar e os cartéis colombianos para, ao invés disso, por exemplo, ficar aqui fazendo campanha para quem quer que seja, mas dizer que “não está dando para viver no Brasil”... por ora, prefiro creditar a uma momentânea confusão ou a vicissitudes ainda não bem assimiladas.
A maioria dos brasileiros não conta hoje com as mesmas possibilidades que você de levar uma vida razoavelmente confortável e muito menos está na mesma posição de influir, ainda que de modo incerto, nos rumos do país e de suas políticas, no seu caso, especialmente a política cultural relegada sempre ao quinto plano.
Infelizmente não pude ver o 'seu' Hamlet, mas não perde validade o ponto de Rosencrantz de que se não está fácil viver no Brasil, no mundo todo é o mesmo¹. Medellín, que você elogiou por seu sistema de transporte público integrado com as favelas, por outro lado, não deixa de padecer com uma multidão de desempregados, viciados e desvalidos que dão um ar mais que lúgubre ao entardecer nos arredores da Plaza Botero e demais áreas de seu centro e digo isso triste porque a Colômbia é um país que muito me encanta. É que as coisas andam fora do eixo e é de irritar mesmo que tenhamos nascido para colocá-las no lugar², mas como dizia o espírito livre de nosso conterrâneo Marighella, o qual você pretende levar às telas, “ânimo firme, sobranceiro e forte”.
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¹- HAMLET: Denmark's a prison. ROSENCRANTZ: Then is the world one.
²- “The time is out of joint: O cursed spite, That ever I was born to set it right!” Hamlet.
Por isso não foi sem espanto que me deparei com uma matéria do Estado de São Paulo, na última quinta-feira (14), onde Moura mostra-se desiludido e perdido. Soou até mais estranho neste atual e efervescente momento da convivência mameluca. Ele relatou para a reportagem que não sabe em quem votar para a presidência e, mais importante, declarou: “Tenho o maior amor por esse País, mas não está dando para viver aqui. Nunca pensei que fosse dizer isso”. E segue dizendo estar feliz com seu novo projeto, que o deixará distante do país, ou melhor, dos problemas deste. Fique claro que não das palmeiras e dos sabiás.
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Cena do filme "Praia do Futuro", em cartaz no país. |
Também na semana passada, em outra entrevista, para Adriana Falcão, diz que sente um“movimento conservador muito violento vindo por aí, um negócio esquisito”. E é nesse cenário então que você Wagner Moura, dirijo-me diretamente a você apesar de não nos conhecermos e confiante de que este texto chegue aos seus olhos, larga que é melhor se afastar do país?
É perfeitamente compreensível que você não abandone o projeto da minissérie sobre Pablo Escobar e os cartéis colombianos para, ao invés disso, por exemplo, ficar aqui fazendo campanha para quem quer que seja, mas dizer que “não está dando para viver no Brasil”... por ora, prefiro creditar a uma momentânea confusão ou a vicissitudes ainda não bem assimiladas.
A maioria dos brasileiros não conta hoje com as mesmas possibilidades que você de levar uma vida razoavelmente confortável e muito menos está na mesma posição de influir, ainda que de modo incerto, nos rumos do país e de suas políticas, no seu caso, especialmente a política cultural relegada sempre ao quinto plano.
Infelizmente não pude ver o 'seu' Hamlet, mas não perde validade o ponto de Rosencrantz de que se não está fácil viver no Brasil, no mundo todo é o mesmo¹. Medellín, que você elogiou por seu sistema de transporte público integrado com as favelas, por outro lado, não deixa de padecer com uma multidão de desempregados, viciados e desvalidos que dão um ar mais que lúgubre ao entardecer nos arredores da Plaza Botero e demais áreas de seu centro e digo isso triste porque a Colômbia é um país que muito me encanta. É que as coisas andam fora do eixo e é de irritar mesmo que tenhamos nascido para colocá-las no lugar², mas como dizia o espírito livre de nosso conterrâneo Marighella, o qual você pretende levar às telas, “ânimo firme, sobranceiro e forte”.
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¹- HAMLET: Denmark's a prison. ROSENCRANTZ: Then is the world one.
²- “The time is out of joint: O cursed spite, That ever I was born to set it right!” Hamlet.

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