TEMPO DE MUTAÇÃO - JEAN WYLLYS NA TRAJETÓRIA POLÍTICA DO BRASIL



Conheci o texto de Jean Wyllys em 2008, após sua participação no Big Brother Brasil 5, por ocasião de uma entrevista sobre "Ainda Lembro" (Editora Globo, 2005), coletânea de crônicas sobre a experiência no reality show e contos do seu primeiro livro, "Aflitos" (Fundação Casa de Jorge, 2001). Com a atuação do escritor, professor e deputado federal Jean Wyllys desfiz alguns equívocos sobre a cultura de massa.

Desde então fiquei atento ao seu crescimento profissional e humano, passei a admirar sua dedicação às palavras – sejam elas escritas ou faladas. Consciente de seu trabalho político-social, acaba de publicar "Tempo Bom, Tempo Ruim – Identidades, Políticas e Afetos" (Cia. das Letras/Paralela, 2014), antologia de ensaios capaz de despertar mentes adormecidas ou aprisionadas por preconceitos e/ou estigmas:

“Sempre que uma minoria reivindica direitos ou procura influir na organização de relações que a oprimem e estigmatizam, os “guardiões” da ordem social – que, claro, gozam de privilégio nessa ordem estabelecida – opõem-se a tais reivindicações, às transformações e ao processo que elas podem trazer. A atitude mais freqüente desses mantenedores da ordem e da moral majoritária consiste em desqualificar os movimentos das minorias por meio de acusações infames e falácias. Um exemplo é afirmação de que as minorias, em sua mobilização, estariam tentando estabelecer uma ditadura. Em relação às reivindicações do movimento, os “guardiões” cunharam até mesmo a descabida expressão “ditadura gay” - como se afirmar o direito à homossexualidade significasse impedir heterossexuais de serem o que são (...) Cada grande momento de afirmação homossexual e reivindicação do direito à homossexualidade provoca, invariavelmente, uma reação homofóbica.”

O lançamento de seus textos engajados registra um capítulo importante na história política do Brasil: o livro é uma referência para se entender a defesa dos Direitos Humanos em tempos atuais, tão sombrios e tão iluminados. "Tempo Bom, Tempo Ruim" também deve ser considerado uma leitura fundamental para os estudos da homossexualidade, ao lado do clássico "Devassos no Paraíso" (Record, 1986) do escritor e ativista João Silvério Trevisan.

Para além da representação como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, ele se estabelece como um crítico de seu tempo, pois através da reflexão sobre sua trajetória defende causas urgentes: a criminalização da homofobia, o combate ao fundamentalismo religioso, a efetivação da laicidade do Estado, a solidariedade ao portador do vírus HIV, a democratização dos meios de comunicação e a regulamentação da maconha. Como parlamentar, sua voz faz eco com a voz de seus parceiros de lutas sociais, como, por exemplo, Chico Alencar, Erika Kokay, Marcelo Freixo e Luiz Eduardo Soares.



O escritor e teólogo da libertação, Leonardo Boff, caro na formação de Jean Wyllys, destaca em “Nova Era: Civilização Planetária” (Editora Ática, 1994), que, em tempo de mutações, para transformar as relações sócio-culturais, “devemos acreditar na força revolucionária da semente”. Ou seja, devemos acreditar em nossos ideais e lutar por eles com a “consciência solidária e planetária, o sonho de uma democracia social”.

Pode-se afirmar que Wyllys tem fé (e muita) nesta “semente” que chamo de “palavra”. E que, por sua vez, ele próprio batiza de “arma” – que utiliza para vencer, não somente o embate com a linguagem, mas a “guerra perene” que enfrentamos ao nascer. Em seu caso, uma luta constante (da sobrevivência à infância pobre na Bahia aos atuais embates políticos em Brasília) que tem resultado em suadas vitórias.

Talvez o que mais revolte seus adversários políticos, num meio tão medíocre quanto hipócrita, é a capacidade que Jean Wyllys tem de articular seus pensamentos e defender seus ideais. Gay, pop, altruísta, celebridade, ativista, político... Pois é, ele é tudo isso, sem vergonha, o que faz suas palavras serem pautadas pela liberdade. Que venham mais livros e outros mandatos de parlamentar; aumentando assim sua força para lutar pelos Direitos Humanos.


Ramon Nunes Mello é poeta, jornalista e ativista dos Direitos Humanos.
*Imagem do Jean Wyllys: Revista Cult/Diego Bresani