“Ninguém ignora tudo. Ninguém
sabe tudo. Todos nós sabemos
alguma coisa. Todos nós ignoramos
alguma coisa. Por isso aprendemos
sempre”.
-- Paulo Freire
Partindo da ideia de que os limites entre o público e o privado são tênues e que embora as ações de responsabilidade social se voltem para a valorização do bem público e dos interesses sociais, nas páginas dos jornais vemos a grande presença dos ideais e interesses privados, pois a voz dos personagens que participam dos fatos publicados acaba filtrada por uma visão: a de uma cultura profissional jornalística. Que também é atravessada pelos valores da indústria jornalística e pelo pensamento liberal que, enfim e apesar de seu discurso democrático, favorece a concentração do poder nas mãos dos proprietários de capital.
Existe a necessidade de compreender o papel do jornalismo na sociedade, e a compreensão dos papéis da profissão, o entendimento de sua prática para obter uma maior participação do público no que envolve a teoria e papel do jornalismo.
Os jornais tentam, mas não têm a capacidade de manter o olhar sob toda a humanidade. Eles têm observadores, os repórteres. Num primeiro contato, as notícias são vistas e dadas como um relato de algum aspecto cotidiano que se destaca: como um reflexo das condições sociais, e de fatos que se destacam do habitual, por assim dizer. Mas na construção da notícia é necessário pensarem como aquela informação irá chegar ao leitor, ou seja, lembrar-se que deve haver uma aproximação com o público de forma que não prevaleça a relação do jornal com o público apenas como audiência.
É muito importante principalmente para nós jornalistas, e também para a sociedade como um todo, entender as complexidades e influências da prática da profissão. Pois essa reflexão ajuda a entender melhor como a prática jornalística afeta uma interação mais profunda entre o público e os narradores. Ou seja, entender como é feito o jornalismo é uma forma de entender onde entra o papel social do narrador, e de que forma os interesses sociais estão sendo trabalhados no jornalismo.
A maior dificuldade é viabilizar um contato de entendimento equilibrado entre as duas esferas em vista de um objetivo: que é atender ao interesse público, muitas vezes ofuscado pelo poder do interesse privado, que não leva a igualdade em consideração. A mídia, como detentora do poder, frequentemente valoriza interesses individuais em genuína defesa de suaprivacidade, em detrimento do interesse social democrático.
O imediatismo é também uma característica da tentativa de atrair audiência, dar o “furo de notícia”. Existe uma necessidade de que a informação chegue rápido, a velocidade pode ser mais valorizada que a própria qualidade das notícias.
Cabe ao jornalismo investir no reconhecimento da pluralidade humana e na igualdade entre os indivíduos, tornando-os agentes de transformações que garantam a qualidade democrática da narrativa mais dialógica com o público, o que poderia oferecer aos leitores a possibilidade de exercer os seus direitos de forma mais consciente. Uma maior preocupação com o público como sociedade, e não somente com a audiência que ele gera, ajudaria em um diálogo em que todos teriam acesso ao poder de colaborar com a construção de um jornalismo pluralizado.
Joana Ribas é jornalista.