Atualmente, minhas idas aos bares estão ficando cada vez mais raras. Consequência natural de casar e ter filhos, acho. Pelo menos enquanto estão pequenos. Claro que já fui freguês assíduo em outros tempos. Na universidade, por exemplo, como a maioria dos alunos normais, tive vários momentos nos bares da cidade.
Hoje em dia, prefiro beber em casa. Principalmente na casa de meus pais. Não só porque a cerveja sai de graça, mas porque hoje não é tão simples arrumar uma boa companhia para ir ao bar. Minha esposa já foi uma boa companheira de copo, mas hoje a dedicação de mãe lhe impede desses convívios sociais, inclusive comigo.
Nas minhas últimas tentativas, morando em uma pequena cidade, invariavelmente me vi no meio de um assunto que não diz respeito a nada do que me cerca. Para piorar, o assunto “Viagra” é um dos mais difundidos nas rodas e, pelo menos por enquanto, não é do meu interesse. Enquanto o papo desinteressante vai e vem, fico observando os bebedores sentados nas outras mesas.
O primeiro grupo é formado pelos alcoólatras clássicos. São aqueles que cruzamos às 10:30 da manhã e já estão bêbados. Assim parecem permanecer por toda vida. Muitas vezes tem uma companheira que os acompanha na jornada alcoólica, não tem emprego fixo e geralmente são figuras emblemáticas da cidade.
O segundo grupo é formado pelos bebedores ocasionais, que usam o jogo de baralho, sinuca e jogos de futebol televisionados para irem para o bar. Algumas vezes me incluo nesse grupo, quando acompanhando algum jogo de interesse, o difícil hoje é ter um jogo de futebol interessante.
No terceiro grupo, são homens que sentam sozinhos nas mesas e assim ficam por muito tempo, bebendo sem companhia. Mesmo que em um bar cheio, parecem estar alheios, dando a impressão de que estão tomando uma cerveja em Marte. Não me refiro ao cara que tomou um pé na bunda, ou outro tipo de chateação. Refiro-me ao cara que sistematicamente frequenta o bar, sem uma razão aparente. Conversa algum assunto irrelevante com alguém, mas não está ali para desabafar. Passa a impressão de que o problema não tem solução, está ali apenas como um paliativo. É aquele cara de meia idade, sem grandes objetivos. Sem perspectivas no emprego. Não é mais o herói dos filhos, pelo contrário, é o exemplo daquilo que eles não querem ser. Mesmo assim, sustenta a todos na casa. Não existe carinho no seu relacionamento. Ele e a mulher estão convenientemente juntos, porém, sem entusiasmo. Dormem em camas separadas.
O bar é o refúgio desses homens, que em visitas semanais regadas à álcool, tentam encontrar o sentido de suas vidas.