Se eu tivesse de eleger o momento mais prazeroso para uma boa leitura, eu diria que é o da sala de espera. Seja qual ela for, é inquestionável a paz que eu estranhamente experimento nestas situações. Por sorte, levar um livro na bolsa já é hábito desde os meus quinze ou dezesseis anos, quando descobri o mundo ambulante que era possível levar para lá e para cá, e que me dava segurança de ser quem sou.
Hoje em dia, passados alguns excessos e até faltas para com o livro, o momento da sala de espera tem sido uma grande salvação. Chegar lá e ver todas aquelas revistas interessantíssimas, cuja leitura provocará em você a vontade de nascer de novo (ou não ter nascido nunca), e se dar conta: eu tenho um livro! É no mínimo um alívio. “Sou possuidor da liberdade de aproveitar este tempo lendo um livro
que eu escolhi”. É no mínimo um insight.
Entretanto, como em tudo na vida há o outro lado, reconheço também uma dose de masoquismo envolvida neste prazer cronológico-literário, que é o fato de que vai durar pouco. A leitura vai acabar logo, eu serei chamada em breve, serei interrompida para voltar à realidade e cuidar de alguma coisa referente a ela.
Talvez por isso é que só na sala de espera do psicanalista é que eu nunca consegui estar muito à vontade para a leitura. A sala de espera do psicanalista é demasiado tensa para qualquer tipo de prazer. É demasiado real para entregar-se a qualquer instinto imaginativo ou fantasioso. Depois, sim, depois posso voltar para casa e ler um romance bem água com açúcar. Talvez só os muito bem resolvidos consigam ler na sala de espera do psicanalista. Eu um dia chego lá.
Enquanto isso, a cada consulta marcada, continuarei separando a leitura mais oportuna, colocando-a cuidadosamente dentro na bolsa, e não vou hesitar e muito menos reclamar se algum apressadinho quiser passar à frente.
Morgana Rech é psicóloga e mestre em teoria literária.