Fiz 33 anos em janeiro. Daqui a pouco vou parar de falar quantos anos eu fiz. Mas decorem: fiz 33 anos, idade bonita, sempre gostei dos números ímpares, nasci num (5), e completei 10 anos de álcool na minha vida. Sim, comecei a beber tarde, com 23. Motivos? Vários, inclusive astrológicos. Meu signo é terra, meu ascendente e minha lua idem. Pense numa pessoa controladora. Eu. Claro que a arte me salva, o mar também. Tento ser situacionista para não virar militar. E se já escrevi algumas vezes o motivo de não ir a todas passeatas que já tive vontade é porque sei da minha força (acho que posso machucar alguém na vida), e portanto da minha fraqueza.
Então, quando todos começaram a beber e ficar diferentes, eu temi. Pois perder o controle não era meu desejo. E também sempre fui a "engraçada", meus pais são engraçados (nem sabem disso, mas são figuras), minhas avós também. Minha mãe não bebe. Meu pai bebe bem. Então eu achava que ia seguir os passos da minha mãe: não iria beber. Lá pelas tantas, sempre ouvia: "nossa, você tá muito louca!". Acho que minha lucidez causava efeito inverso nos alucinados.
Segurei muita testa de amiga pra vomitar, ouvi verdades escondidas, declarações, arrependimentos, movimentos de dança inéditos, mas não era apenas uma voyeur não. Eu participava, entrava na onda, com facilidade, apenas não bebia. Só isso.
Com 23 anos, depois de me formar em teatro, mas não saber exatamente se aquilo era o que eu queria da vida, tive curiosidade de beber. O teatro era um lugar de alucinação pura, hoje em dia acho engraçadíssimo ter me formado sem uma gota de álcool. Fiz novas amizades que bebiam, e não sei porquê, com elas, tive vontade de experimentar. E confesso que me apaixonei. Cerveja, chopp, a chegada do vinho na minha vida, uh lá lá, que emoção. Depois a descoberta da gin-tônica no verão, noites de whisky, enfim, fui tomando gosto, muito gosto pela coisa. Obviamente com toda essa terra no meu mapa, sou a primeira a ir embora das festinhas, dos encontros. Já dei meus mini escândalos, já vomitei uma mísera vez por conta de álcool (não posso com champagne), mas sempre, sempre não vou até o fim do álcool. Tenho medo, sei que minha zona sombria é um buraco negro do qual, como representante do "dia da recuperação" (no livro A Linguagem Secreta dos Aniversários) devo me afastar, me proteger.
No reveillon desse ano tive uma ressaca estranha – deve ser a velhice –, e comecei a perceber alguns estragos do álcool em mim. Tanto na minha barriga interna quanto externa, mas também psicologicamente. Decidi, como quem comemora ao contrário, passar um mês sem álcool. Já que faz 10 anos que bebo, fiquei curiosa para saber a sensação.
Nunca vou esquecer da Maria Rezende dizendo que tinha ficado com um cara, dado o primeiro beijo sóbria, e como isso era inédito na vida muita gente, dar um primeiro beijo em alguém, estando sóbria.
Não devo parar de vez, sou boêmia, gosto de apreciar um bom vinho e também das boas cervejas. Gosto de tomar whisky com meu pai, gosto. Mas essa limpeza tem sido curiosa para que eu perceba onde reside a coragem, o foco e o delírio, apenas me sabendo viva, sem aditivos. Não sei se recomendo, cada um tem um metabolismo, um mapa astral, uma história, mas pra mim foi curioso. E não foi fácil. Qualquer showzinho, festinha, ou evento, era a primeira coisa que eu fazia: pegar uma cerveja. E todos nós, certo? Nenhum problema. Certo, de novo? Certo. Adoro a frase do Freud que diz que "o sistema de sobrevivência é o de delírio, para sobreviver é preciso delirar". Mas como entender até onde se aguenta e até onde é um penhasco sem fim?
Vi a notícia do menino que morreu numa competição de bebidas em festa universitária. Parece que ele bebeu o equivalente a 30 doses de vodka. Horror. Tristeza. Enquanto isso, pessoas que plantam maconha para uso próprio são presas no Rio de Janeiro. Nem vou entrar nesse assunto porque me dá vontade de machucar alguém.
Finalizo meu texto dizendo que voltei a beber já. Foi um mês e uma semana sem álcool. Gravei o terceiro disco do Letuce com a voz "limpa". Fez diferença, eu senti. Acordei bastante empolgada em vários dias e li bastante (não consigo ler bebinha), enfim, foi uma experiência válida e forte. Já voltei a beber. Uns vinhozinhos. E uma ou outra cerveja. Mas fica a noção real de que essas propagandas com mulheres gostosonas de biquini (cerveja) ou uma mulher enigmática num salão de hotel de luxo (vodka), todo esse simulacro não pode nos enganar: álcool é uma droga também. Que mata também. Lentamente. Ou na hora, como o tal estudante mineiro. Quem gosta de droga, seja rivotril, lexotan, e tantos outros nomes novos de "remédios" que nem sei, ou maconha, pó, álcool, tem que ter noção disso.
Um brinde! Com noção! E às vezes sem também pra se perder (se achar), enlouquecer é um barato, mas morrer jovem não é não.
Leia também
- A PRÉ-HISTÓRIA DA PSICODELIA
- PONTOS DE LUZ - AS VISÕES DE UM SHOW
- UM SEGUNDO PARA A IMORTALIDADE
- O MELHOR LUGAR PARA CHORAR
- 14 COISAS QUE APRENDI EM 2MIL&14
Então, quando todos começaram a beber e ficar diferentes, eu temi. Pois perder o controle não era meu desejo. E também sempre fui a "engraçada", meus pais são engraçados (nem sabem disso, mas são figuras), minhas avós também. Minha mãe não bebe. Meu pai bebe bem. Então eu achava que ia seguir os passos da minha mãe: não iria beber. Lá pelas tantas, sempre ouvia: "nossa, você tá muito louca!". Acho que minha lucidez causava efeito inverso nos alucinados.
Segurei muita testa de amiga pra vomitar, ouvi verdades escondidas, declarações, arrependimentos, movimentos de dança inéditos, mas não era apenas uma voyeur não. Eu participava, entrava na onda, com facilidade, apenas não bebia. Só isso.
Com 23 anos, depois de me formar em teatro, mas não saber exatamente se aquilo era o que eu queria da vida, tive curiosidade de beber. O teatro era um lugar de alucinação pura, hoje em dia acho engraçadíssimo ter me formado sem uma gota de álcool. Fiz novas amizades que bebiam, e não sei porquê, com elas, tive vontade de experimentar. E confesso que me apaixonei. Cerveja, chopp, a chegada do vinho na minha vida, uh lá lá, que emoção. Depois a descoberta da gin-tônica no verão, noites de whisky, enfim, fui tomando gosto, muito gosto pela coisa. Obviamente com toda essa terra no meu mapa, sou a primeira a ir embora das festinhas, dos encontros. Já dei meus mini escândalos, já vomitei uma mísera vez por conta de álcool (não posso com champagne), mas sempre, sempre não vou até o fim do álcool. Tenho medo, sei que minha zona sombria é um buraco negro do qual, como representante do "dia da recuperação" (no livro A Linguagem Secreta dos Aniversários) devo me afastar, me proteger.
No reveillon desse ano tive uma ressaca estranha – deve ser a velhice –, e comecei a perceber alguns estragos do álcool em mim. Tanto na minha barriga interna quanto externa, mas também psicologicamente. Decidi, como quem comemora ao contrário, passar um mês sem álcool. Já que faz 10 anos que bebo, fiquei curiosa para saber a sensação.
Nunca vou esquecer da Maria Rezende dizendo que tinha ficado com um cara, dado o primeiro beijo sóbria, e como isso era inédito na vida muita gente, dar um primeiro beijo em alguém, estando sóbria.
Não devo parar de vez, sou boêmia, gosto de apreciar um bom vinho e também das boas cervejas. Gosto de tomar whisky com meu pai, gosto. Mas essa limpeza tem sido curiosa para que eu perceba onde reside a coragem, o foco e o delírio, apenas me sabendo viva, sem aditivos. Não sei se recomendo, cada um tem um metabolismo, um mapa astral, uma história, mas pra mim foi curioso. E não foi fácil. Qualquer showzinho, festinha, ou evento, era a primeira coisa que eu fazia: pegar uma cerveja. E todos nós, certo? Nenhum problema. Certo, de novo? Certo. Adoro a frase do Freud que diz que "o sistema de sobrevivência é o de delírio, para sobreviver é preciso delirar". Mas como entender até onde se aguenta e até onde é um penhasco sem fim?
Vi a notícia do menino que morreu numa competição de bebidas em festa universitária. Parece que ele bebeu o equivalente a 30 doses de vodka. Horror. Tristeza. Enquanto isso, pessoas que plantam maconha para uso próprio são presas no Rio de Janeiro. Nem vou entrar nesse assunto porque me dá vontade de machucar alguém.
Finalizo meu texto dizendo que voltei a beber já. Foi um mês e uma semana sem álcool. Gravei o terceiro disco do Letuce com a voz "limpa". Fez diferença, eu senti. Acordei bastante empolgada em vários dias e li bastante (não consigo ler bebinha), enfim, foi uma experiência válida e forte. Já voltei a beber. Uns vinhozinhos. E uma ou outra cerveja. Mas fica a noção real de que essas propagandas com mulheres gostosonas de biquini (cerveja) ou uma mulher enigmática num salão de hotel de luxo (vodka), todo esse simulacro não pode nos enganar: álcool é uma droga também. Que mata também. Lentamente. Ou na hora, como o tal estudante mineiro. Quem gosta de droga, seja rivotril, lexotan, e tantos outros nomes novos de "remédios" que nem sei, ou maconha, pó, álcool, tem que ter noção disso.
Um brinde! Com noção! E às vezes sem também pra se perder (se achar), enlouquecer é um barato, mas morrer jovem não é não.
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- UM SEGUNDO PARA A IMORTALIDADE
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