INSTRUÇÕES PARA DIZER EU TE AMO


Para dizer eu te amo, em primeiro lugar, é preciso lembrar que a função biológica dos órgãos hoje denominados vocais, não é a fala, mas, antes, a respiração, a mastigação e a deglutição. Foi o ser humano que, ao viver em sociedade, desenvolveu a capacidade de se expressar adaptando esses órgãos para dizer que eu te amo.

Para dizer eu te amo é mister saber que a produção de sons se dá a partir de ar dos pulmões. Os lábios, a mandíbula e, de certa forma, a língua e os dentes, são as partes do aparelho fonador visíveis do exterior; para dizer eu te amo – especialmente se for pela primeira vez – recomenda-se estar em dia com a higiene das partes visíveis.

Embora considerados essenciais, lábios, mandíbula, língua e dentes não são as únicas partes que compõem o aparelho responsável por dizer que eu te amo, mas todos os órgãos que representam um tubo com início nos pulmões e final ramificando-se para a boca e nariz – estes últimos também frequentemente utilizados em caso de amor.

Quanto aos órgãos e sua função para a fonética, eu te amo ocorrerá segundo 3 sistemas atuando de modo sucessivo, cada um contribuindo para o resultado amoroso final:

I - respiratório ou subglótico
II - fonatório ou glótico
III - articulatório ou supraglótico

O sistema subglótico ou respiratório tem a função de fornecer a energia aerodinâmica para os sistemas fonatório e articulatório na forma de uma corrente de ar egressa dos pulmões de quem ama, independentemente se este é ou não amado de volta. Para a composição da energia aerodinâmica que dará origem a eu te amar, devem-se considerar os seguintes parâmetros físicos do a(mo)r: volume, fluxo, pressão e resistência a sua passagem.

Considerando-se que eu te amo durante a expiração, o portador de amor deve controlar o volume do (m)ar egresso dos pulmões e pode também reduzir o tempo de (ins)piração a cerca de 15% do ciclo total da (res)piração, visando ajustá-la às necessidades da velocidade de(o) ser amado. Para que ocorra fluxo de a(mo)r na saída do conduto vocal, é necessário que haja um desequilíbrio em favor da pressão interna do ar(dor), bastando ser um pouco superior à pressão atmosfe(é)rica para haver (ex)piração, e de cerca de 1kPa, para que haja um eu te amo normal.


Visando a realização satisfatória de eu te amo, as aritenóides devem unir as pregas vocais, bloqueando o fluxo de ar egresso da traqueia, enquanto a pressão subglótica aumenta até vencer a tensão de fechamento das pregas daquele que quer divulgar que ama. Neste momento, a glote abre-se numa pequena fenda, proporcionando que o eu, enfim, te ame, dando início ao ciclo vibratório de aproximação e afastamento contínuo das pregas vocais e deste possível amor.


O fenômeno da fonação do amor inicia-se devido à pressão subglótica e, sobretudo, borbolêtica na região do abdômen, que abrem uma fenda a partir das bordas inferiores das pregas vocais e do coração, permitindo a passagem de uma pequena corrente de ar com a qual geralmente não se sabe como viver como antes. Com a manutenção dessa pressão, o fluxo de borboletas abdominais vai aumentando gradualmente, forçando uma maior separação das pregas, e provocando uma crescente abertura da fenda da glote e da vida daquele que passa a precisar dizer, urgentemente, que ama. Este mecanismo pode ser descrito como um sistema elástico, existindo, num sentido, as forças separadoras aplicadas pelo fluxo de amar sobre as pregas vocais, e, no outro sentido, as tensões elásticas restauradoras das pregas amadas. O crescente  deslocamento separando as pregas e os amantes proporciona um aumento dinâmico das suas tensões elásticas restauradoras até a posição de equilíbrio com as forças aplicadas devido à pressão de se estar em plena situação de amar. Nesta posição, a energia cinética acumulada durante a fase de separação é transformada em energia potencial elástica, que tem de ser suficiente para superar a força separadora dos dias e iniciar o movimento de fechamento da glote a partir da região de maior abertura do peito para tudo que há de bonito neste  (e no outro) mundo.

Sabe-se que a vibração de eu te amo durante a fonação acontece de forma tão rápida que não é possível para o olho humano, sem uso de equipamentos, perceber nitidamente o movimento das pregas vocais, ou a veracidade do amor. Há eventos em que é possível verificar que a glote está misteriosamente fechada durante a fonação do amor.

Enquanto houver pressão subglótica e amor em níveis suficientemente altos e as cartilagens aritenóides e os amantes permanecerem devidamente aproximados, a fonação de eu te amo e o amor persistem.