É O MUNDO DA CONCORRÊNCIA BRUTAL E MESQUINHA O QUE SE DESEJA?


"Funcionários foram resgatados de trabalho escravo em Forquilhinha, no Sul de Santa Catarina. A ação, coordenada pelo Ministério Público do Trabalho, que já vinha monitorando ações de uma empresa terceirizada do Frigorífico JBS, conseguiu dar o flagrante" (Trecho adaptado de notícia).

Se fala muito em direitos individuais, mas se esquece também da hora e da vez dos direitos coletivos. Direitos coletivos estes importantes não apenas nas questões de expressões culturais identitárias, mas que se mostram fundamentais para manutenção de um tecido social que hoje não escancare as portas, já entreabertas, da barbárie. E não se trata de exagero retórico.

A luta contra o PL 4330/2014 deve ser intransigente. Se para o capital o trabalho é apenas uma mercadoria qualquer a ser comprada pelo melhor custo benefício, para o trabalhador ele significa primeiro não um meio de valorizar o valor (criar lucro), mas um meio de significar - e em distintas vias ideológicas - sua humanidade e a dos seus semelhantes.

Não partilho da "ética do trabalho", do trabalho abstrato, que já quase sendo qualquer que seja, desde que crie mais valor (lucro), dignifica o homem; além de que, por esta a lógica, a preguiça é sempre um crime e se esfacelar a redenção.

Mas nem sequer o liberalismo calvinista, me parece, poderia coadunar com a ideia de que o trabalho só dignifica a uns e não a outros. Ou o trabalho dignifica a todos ou não dignifica ninguém. E sendo todos que trabalham dignos de mesma consideração, não?

E que trabalhadores poderiam querer menos direitos em benefício do acirramento geral da competição e, por conseguinte, do capital que os precariza? Só mesmo um trabalhador amesquinhado que veja seus colegas de ofício como seus inimigos e que viva a comparar seu "tripalium", afinal é um tortura, com o do outro.



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JÚLIO FISHERMAN
Poeta, jornalista e colunista do ORNITORRINCO