PARA COMPOR UM CONTO CHAMADO "EM CASA"


1. O primeiro livro a ser aberto é O pequeno vampiro, de Angela Sommer-Bodenburg, publicado pela Martins Fontes em 1993 com tradução de João Azenha Jr. Abra na página 44 e leia o trecho que vai de “Quando Anton acordou…” até “… tinha torta no forno!”.

2. O próximo livro é Olhos secos, romance de Bernardo Ajzenberg publicado pela Rocco em 2009. Vá até a página 122 e procure pela passagem que começa com “Levantou-se…” e termina em “… se arrastou até a cozinha”.

3. “Sobre a mesa jaziam os restos […] não parecia ter sido consumida muita coisa”. Chegamos à terceira contribuição, encontrada em O veredicto/Na colônia penal, de Franz Kafka. Modesto Carone traduziu este trecho da página 15 – e todos os outros trechos de todas as outras páginas – para a edição publicada pela Companhia das Letras em 2009.

4. Ainda com Franz Kakfa, mesmo livro, mesmo local, atentem para este importante fragmento: “O pai estava sentado”.

5. “o copo de vinho à mão”, é o que escreve Cristovão Tezza em Um erro emocional, na página 90 do romance publicado pela Record em 2010.

6. Novo parágrafo: “- Dê só uma olhada – ele pediu, com”. Assinado por Orhan Pamuk, da página 9 do tocante A maleta do meu pai. A tradução é de Sérgio Flaksman, publicada pela Companhia das Letras em 2007.

7. Vamos de “a expressão fatigada…” até “…farto de representar”. Nossa sétima contribuição é pinçada de um conto de Lygia Fagundes Telles chamado “Apenas um saxofone”, incluído na antologia Liberdade até agora, organizada por Márcio Debellian e Eduardo Coelho e publicada pela Móbile em 2011. O excerto se encontra na página 149.

8. “Depois de”, é a curta porém decisava colaboração de Azar Nafisi, autora de Lendo Lolita em Teerã, livro apresenta essa passagem na página 196. A tradução de Fernando Esteves foi publicada pelo selo BestBolso da Record em 2009.

9. Hora de incluir o nome “Anton”, retirado de trecho já utlizado do livro de Angela Sommer-Bodenburg.

10. Completamos uma dezena de colaborações. Merecemos comemorações? Adiante! Seguimos com uma contribuição mais longa da mesma página do Lendo Lolita em Teerã de Azar Nafisi: “atacar um tomate cereja que ficava continuamente deslizando do seu garfo”. Bonito, não?

11. Um autor tão bom, um livro tão extenso! E dele faremos uso de apenas um curtíssimo fragmento… “o velho”. É isso. Que vergonha. Precisamos seguir. Não antes sem revelar a belíssima fonte: Hermann Brock, “Pasenow ou O Romantismo”, novela encontrada em Os sonâmbulos. Tradução de Wilson Hilário Borges, editora Germinal, 2003. A página é a alva 105.

12. Erramos! Há uma segunda contribuição de Hermann Brock. Mesma página, mesmo livro. Glória! Estamos salvos. Vamos a ela: “murmurou: – Cão, cão, falta à sua palavra”. Esse sim… verdadeiro poeta.

13. “Tens de mendigar o teu pão”, frase forte de Daniel Defoe, localizada na página 14 de Robinson Crusoé, em adaptação e revisão de Terra de Sena, publicada pela Minerva em 1954 (ainda a temos aqui, perfeitamente legível).

14. “Conheço um lugar melhor para fazer isso”, sugere Adriana Lunardi, misteriosa, em A vendedora de fósforos, página 75, publicado pela Rocco em 2011.

15. Agora três contribuiçõs em sequência de Angela Sommer-Bodenburg, do seu O pequeno Vampiro. Lembram deste livro? Ah, como era boa a infância! Cada trecho salta de uma página: “Por um momento […] ficou indeciso”: página 37.

16. Avancemos à página 131, indo de ”Repuxou…” até “…e sorriu”.

17. “– Eu… vou dormir – disse.”, lá na página seguinte, 132.

18. “– Que palhaçada é esta?” pergunta o arretado Marcelino Freire em “Vovô valério vai voar”, outro conto da já mencionada antologia Liberdade até agora, na página 239.

19. “– falou”, diz ainda Marcelino, mesmo livro, desta vez na página 232.

20. Façamos um retorno – crucial, diríamos – a Kafka. Operando uma redução em fragmento previamente utilizado, iremos ao encontro de sua contribuição mais decisiva, um trecho de extrema potência, formado por palavras cuja força expressiva só podemos encontrar em páginas compostas pelas mãos desse mestre: “o pai”.

21. Dorothy Parker, em “Meia-idade, triste idade”, publicado na página 205 da revisa Serrote número 7, pelo Instituto Moreira Salles em 2011, dirige-nos o seguinte: “– Já não há erros; você cometeu todos eles”.

22. “e não pôde ver… tinha ficado vermelho”. Com esse trecho, novamente da estimada Angela Sommer-Bodenburg, lido na primeiríssima página de seu O pequeno vampiro, nos despedimos. A investigação, no entanto, permanece aberta.


Leonardo Villa-Forte é autor do livro O explicador, da intervenção urbana Paginário e das colagens da série MixLit – O DJ da Literatura.