QUANDO VAI COMEÇAR A PUTARIA?


Em um desses dias de outono que só o Rio tem, céu azul e um frio absurdo para cariocas, uma das minhas melhores amigas resolveu fazer sua despedida de solteira. Do alto dos meus 29 anos, eu só participei de uma despedida de solteira. Que foi bem caída, num hostel boutique, com drinks caros, enquanto eu esperava ver gente pelada e muita sacanagem rolando solta.

Dessa vez, a noiva deixou a despedida a cargo de umas amigas, que eu não fazia ideia de quem eram. As meninas já estavam discutindo os detalhes há dois meses. Entrei no grupo do Whatsapp, que tinha uma média de 200 mensagens por dia, e vi que o sarrafo estava alto demais pra mim.

Eu estou desempregada e raspando o que resta das minhas economias, inclusive minha aposentadoria. Agradeci o convite e resolvi que não ia participar. Na véspera, uma amiga da amiga, que a gente pode chamar de Juliana, a amiga da amiga, não a minha amiga, me convidou e disse que ia rolar um esquenta G-R-Á-T-I-S e um pós, também grátis, numa casa de swing. Topei tudo. Meu esquema anda sendo festas grátis, ocupações, coquetéis com comida liberada.

No esquenta, estavam todas animadíssimas. Nunca vi tanta coisa em forma de piroca na minha vida. Tinha de todos os tipos, em todos os cantos. Dali, elas seguiram para um pagode e eu voltei para casa com dor no coração e saudade das novas amigas.

Juliana havia me garantindo que às 23h30 estariam lá. Quando me enviou o nome do lugar, dei um Google pra saber o que me esperava. Site com música e a promessa: a casa mais alternativa do Rio. Dark room, glory hole, cabines, swing, suruba, MULHER GRÁTIS. Olha, eu estou tentando ser feminista há um bom tempo, não curto isso de mulher ser grátis, pagar menos, mas na atual conjuntura dos fatos, nem consigo expressar a felicidade que eu senti.

Pra matar o tempo entre a pré e a pós, fui tomar uma cerveja com um amigo, que me convidou para um samba. Só que, samba no Rio de Janeiro é meio...nhe. Entre suruba e samba, preferi ir a suruba, por que o Rio pode ser o berço do samba, mas a suruba tem o Catra como rei. Pus uma calça e me taquei para a casa de swing, que fica a 1h30 da minha casa.

Encontrei todas as amigas já bêbadas na porta e alguns casais, que pareciam ser habitués do local (sorry, Amaury Junior), confirmei a entrada grátis e fui chegando. Um DJ tocava músicas de rádio e afirmou: a melhor boate do Brasil. No lugar, que é como qualquer outra balada que você já tenha ido, com a diferença de ter muitos mastros, há um espaço no térreo com várias cabines e janelas com treliça. Ainda aí, duas salas com a placa: dark room e uma com filmes pornôs de suruba. No andar de cima, quartos privativos e três salas com cortininha. Casais subiram para os quartos privativos, o que nos deixou super frustradas.

Nenhuma ação na boate. Na pista, uma moça de vestido preto dançava animadamente para o seu marido e os casais eram, em grande maioria, coroas. Pensei até o quanto seria engraçado se visse, sei lá, minha mãe. Me confortei com a ideia de que, pelo menos, ela iria transar e fiquei feliz por ela. Pedi uma caipirinha, depois de olhar o cardápio e pensar no custo benefício. Para minha alegria, o barman pôs tanta cachaça que aquele seria o único drink da noite. O lugar tem preço de puteiro, como diria meu avô.

Encostada no bar, uma moça comia uma porção de batatas fritas sozinha. Aliás, só serviam fritura. Não que eu esteja reclamando. Os casais não paravam de chegar, mas aquele clima de fim de festa, sem ação permanecia. Eu me consolava com a ideia da pista de dança e todas as meninas se jogando no pole dance. Resolvi espantar meu tédio e fingi que era um velho safado, olhando as bundinhas das cocotas. Confesso, não foi nada mal.

De repente, opa, grandes amigos de alguém estão aí. Opa, a executiva da multinacional que eu trabalho está aí. Mulheres que sobem no palco, ganham tequila. Desculpe, Simone de Beauvoir. Eu nem bebo tequila, subi por subir mesmo. Nesse tempo, um casal começa a olhar para mim e para Juliana, ela se empolga e derruba meu drink no casal. Porra, meu drink da noite. O casal fica aborrecido e eu acho engraçado como o tesão se evaporou.

QUANDO VAI COMEÇAR A PUTARIA? Me garantem que depois do strip-tease. Eis que chega uma mulher, mignon, com um hábito de freira. Caralho, eu adoro freiras. Não no sentido sexual, gosto da instituição freiras. Estudei em escola de freiras e até pensei em ser uma, já que a vida das Salesianas, a congregação das da minha escola, era bem liberal. Só não transavam, mas ninguém queria me comer na época da escola mesmo. A freira tira o hábito e é um diabo incógnito. As meninas do meu grupo acham que aquilo é pecado e fudeu no nosso dia do juízo final.

Ela dubla a música, sinto saudade dos episódios de RuPaul, dá chicotada em todas, sobe no pole, fica nua, peitinhos e bunda grande. O meu grupo aplaude, empolgadíssimo, pela lição aprendida com a madre superiora.

Chega o cara. Terno, gravata e casacão. Ele tira a roupa super rápido. Será que tá de pau duro? Tomou Viagra, certeza. Ele tá de pau duro há horas, são os palpites da mesa. Pau gigante, meia bomba, ele sai envergonhado.

Os strippers voltam juntos. Ele agarra a todas, me agarra e eu rio horrores. No final, me agradece. Agarra Juliana e ela faz uma performance maravilhosa. Leva jeito pra coisa, é o que todas falamos. No final da festa, ela me promete que volta, com ou sem namorado. Acaba o show e vários casais se direcionam às salinhas. Vai começar, amigos.

No centro do dark room, um casal manda ver e várias pessoas assistem. Fazem amorzinho gostoso. Quem são? Os strippers? O cara sai de cima da mulher e descobrimos que é o bofe da executiva e a executiva, chefe de uma das meninas, professora de outra. Eta, coisa maravilhosa.

É interessante como essa liberdade de sexo fez com que a gente se tornasse infantil. Todas toparam assistir, mas ríamos feito bobas pelos corredores das salas. Vai você, vai você primeiro. Fala mais baixo, pra não atrapalhar a foda das pessoas. Esse lugar cheira a sexo, diz uma das meninas. Penso que, se toda vez que eu for transar, tiver esse cheiro, nunca mais vou querer transar na vida.

Percorremos as cabines, em busca do voyeurismo. Na maioria delas, caras chupando mulheres e mãos bobas no glory hole. Um pau no glory hole e a mulher se ocupando dos dois. A ala mais conservadora do grupo está em choque. Principalmente, pelo casal de amigos de uma das meninas que mandou ver num boquete para todos verem. Como olhar para eles daqui para frente? A mulher do casal estava no banheiro, a amiga deles resolveu ir para casa com vontade de fazer xixi mesmo. Torço para que todas tragam os maridos ou que sentem na cara deles na volta para casa.

Já na saída, MC Ludmila cantava “não sou de uma pessoa só
Não curto amores, eu curto sabores da vida”.

Se você quiser, esta história acaba aqui. Se você quer conselhos de uma desconhecida, é o seguinte: tá a fim de conhecer? Vá lá e veja como é. Não precisa esperar tá namorando, ficar velho, ter previdência privada. Vá, principalmente, se você for mulher ou, como chamam nesses lugares, unicórnios. Você pode ir sozinha, com amigas, namorada e ninguém paga nada para entrar. A moral católica atrapalha um pouco e aparecer uma freira não ajuda em nada. Você é homem? Não, não pode ir sozinho. Arrume uma amiga e, se ela tiver desempregada, pode pagar a entrada dela. É um casal? Se joguem. Obrigada. De nada.


Joana Mendes é redatora publicitária.